DO VOCATIVO

O vocativo é um termo que tem como função chamar ou interpelar o receptor (a 2ª pessoa). Num linguajar mais coloquial (ou então arcaico) é precedido pela interjeição "ó". Também se caracteriza por ser separado dos restantes elementos da frase por uma vírgula ou por simplesmente ser rematado com um ponto exclamação.

Exemplos:

Coisinho, chega aqui!

Chega aqui, Coisinho!

Ó Coisinho, chega aqui!

Chega aqui, ó Coisinho!

Coisinho!

Ó Coisinho!

Esclarece-se que "pssst" não é vocativo, no sentido gramatical do termo, assim como o assobio ou o estalar de dedos também não são.

Ora, o uso do vocativo no contexto de uma frase, especialmente quando não antecedido do "ó", é sinal de deferência ou, pelo menos, de que nos lembramos do nome do interlocutor.

Ter um curso superior facilita muito as coisas, já que corremos todos com um cómodo "Senhor(a) Doutor(a)". Mesmo que o dito seja engenheiro ou arquitecto, seguramente que não se sentirá insultado. É claro que se for Professor a história já é outra.

Acontece que o emprego abusivo do vocativo pode ser extraordinariamente enjoativo. E é um vício dos bajuladores e dos idiotas.

A menos, é claro, que a repetição aconteça num discurso de circunstância ou que seja evocativa de uma entidade espiritual ou defunta (desde que não vinda de carpideiras) ou de alguém que é surdo que nem uma porta. Aí já não é patético.

Com alguma indulgência, também podemos qualificar como vocativo o "se faz favor". Mas, estranhamente, se dissermos "ó, se faz favor", o vocativo é em rigor o "ó". Nestes casos seguem-se normalmente reticências até que o empregado chegue para então fazermos o pedido.

"Ó vós que entrais, deixai toda a esperança!"

(inscrição nas portas do Inferno)

in,

A Divina Comédia de Dante Alighieri

Despedimo-nos com amizade e até à próxima lição.

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