O PONTO DE EMBRAIAGEM
E
A NESPRESSO ("what else?")

Como é sabido (ou não...), a embraiagem, entre outras funções complicadas, destina-se a desligar o motor das rodas motrizes (ou será da caixa de velocidades?).
Em "chassos" ("chaços"?), perdão, em carros como o nosso, a embraiagem é accionada através de um pedal (o primeiro a contar da esquerda dos três supra representados).
É pressionando esse pedal, de preferência com o pé - como o próprio nome aconselha -, que engatamos (engrenamos) uma mudança ao movimentar o manípulo da caixa de velocidades, de preferência com a mão - e pela mesma razão.
Uma sucessão elegante e quase sincrónica de movimentos.
Verdadeira cumplicidade entre pés e mãos: o direito larga o pedal (direito) de controlo da velocidade - vulgo: acelerador - ao mesmo tempo que o esquerdo pressiona o da embraiagem; a esquerda segura o volante, libertando assim a direita para o engate da mudança de velocidade.
É este o momento de intimidade entre carro e condutor.
Porém, o verdadeiro talento do condutor afere-se pela facilidade em alcançar o "ponto de embraiagem", também conhecido por "meia embraiagem", ponto em que se consegue manter o carro quase imóvel (embora, obviamente, ligado / "vivo"...), compensando a pressão no pedal da embraiagem com a pressão no acelerador, sem o deixar "morrer".
É certo que não se deve abusar desta operação; mas ela é quase inevitável nas manobras de estacionamento, especialmente se não se conseguir mais do que um lugar acanhado para o efeito.
Ora, o controlo humano da embraiagem tem os dias contados pelo simples motivo de que a caixa de velocidades tende a ser automática, automatismo esse que tem vindo a "democratizar-se".
Dir-se-ia que isso é bom, assim como, supostamente, é preferível o GPS ao enorme mapa de papel desdobrável ou o avisador de proximidade de um obstáculo (o irritante "pii...pii...pii...") ao "crash".
Com o devido respeito pelo facilitismo, não concordamos!
É que assim retira-se todo o prazer da condução. Mais: acaba-se com a arte de conduzir, nivelando por baixo os condutores, que passam a ser todos maus, pois também já não precisam ser bons, uma vez que o carro faz tudo por eles.
As escolas de condução que se ponham a pau (o que até nem será mau...)!

E quando se fala de embraiagens, fala-se de qualquer outra coisa, como, por exemplo, de máquinas de café.
Se não, vejamos:Segundo o INE (Instituto Nacional de Estatística), não há hoje em Portugal lar que se preze (tirando porventura o nosso...) em que não haja uma Nespresso!
Falamos, como bem sabeis, de uma estilizada máquina de café expresso, cuja concepção foi encomendada por uma conhecida multinacional de papas para bébé e que funciona à base de cápsulas (a máquina, não a multinacional das papas...).
E há cápsulas para todos os gostos, em que o café pode ser aromatizado com as coisas mais estapafúrdias.Disseram-nos, inclusivamente, que já está disponível no mercado nacional café com aroma a sardinha assada.Mas, honestamente, nem é isso que nos incomoda. Por nós, até pode cheirar e/ou saber a chá!
O problema não é a novidade, em si.
Mais uma vez, o que nos choca é o automatismo e também o uniformismo.
Deixa de haver surpresas...É que antes era possível errar na dose de café: da "pólvora" à "cevadinha"...Também era possível - como aliás aconteceu esta manhã connosco - entornar meio pacote de café na cozinha em pleno cenário de atraso laboral.Agora não!
Entristece-nos isto das cápsulas...
Onde pára o café de balão, por exemplo?
Extraordinário espectáculo visual, esse, embora aqui pindericamente recordado pela Bodum, que prescinde da indispensável lamparina, ligando o balão à corrente eléctrica (não se vê, mas é assim)...
E o que é feito da, incomparavelmente eficaz, cafeteira de alumínio, hum?
Juízo final, que é como quem diz "moral da história": somos pelos bons e maus cafés, desde que tenham personalidade, ****!